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Curso Antherotec -1 unidade – Anatomia dos peixes

Forma e estrutura dos organismos aquáticos

A anatomia é um ramo da ciência que estuda a forma e a estrutura dos organismos. Seu estudo é importante para entendermos a biologia geral dos peixes em suas diversas fases de desenvolvimento. Os peixes são vertebrados aquáticos e possuem a capacidade de fazer variar sua temperatura corporal, de acordo com o meio ambiente. Respiram através de trocas gasosas com o meio, promovida geralmente pelas brânquias.

Os Osteichthyes ou peixes ósseos representam o maior grupo de vertebrados tanto em número de espécies cerca de 23.600 como em número de indivíduos. Desenvolveram uma enorme variação de formas e estruturas, esses animais são abundantes em águas doces ou salgadas em águas rasas ou profundas. Suas formas variam de acordo com as condições ambientais em que vivem sendo o mais comum a fusiforme, estrutura que sofre pouca resistência da água na locomoção. Possuem simetria bilateral, e locomovem em sentido longitudinal, sendo que a nadadeira caudal funciona como o principal apêndice locomotor. Quanto ao tamanho podem atingir quase 20 metros como o tubarão baleia, e os menores cerca de 1cm como os guarus.

Aspectos externos

O corpo dos peixes teleósteos é fusiforme mais alto que largo, de secção transversal oval para facilitar a passagem através da água. A cabeça estende-se da extremidade do focinho até o canto posterior do opérculo, o tronco desde este ponto até o ânus e o resto é cauda. No dorso há duas nadadeiras dorsais e duas nadadeiras peitorais ou ventrais, na ponta da cauda a nadadeira caudal e ventralmente na cauda a nadadeira anal.Desenho 1 :Aspectos gerais externos dos peixes teleósteos.

Para controle nos projetos produtivos as medições de tamanho consideram o comprimento total da ponta do focinho até a ponta da nadadeira caudal, chamado de comprimento total (CT), e para estudo de taxonômicos e pesquisas consideram na medição o comprimento padrão (CP), a medição da altura é da porção superior do dorso a porção inferior do abdome (h).   O peixe inteiro é coberto por epiderme lisa, que produz um muco que facilita a movimentação na água e é uma proteção contra a entrada de organismos causadores de doenças. Possui uma linha lateral ao longo de cada lado do corpo, é um fileira de pequenos poros comunicados com um canal longitudinal situado abaixo das escamas.

 A cobertura exterior, as escamas, acima da epiderme, são geralmente finas imbricadas e ósseas e crescem ao longo da vida do animal aumentando de tamanho juntamente com o peixe. Não ocorrem trocas de escamas mas se perdidas podem ser substituídas.    Possuem nadadeiras de várias formas tamanhos e localização: as peitorais estão geralmente perto das aberturas branquiais, as pélvicas estão no abdome como na truta arco-íris Oncorhynchus mykiss. A nadadeira caudal varia conforme a espécie sendo as que são bifurcadas desenvolvem grande velocidade de natação e as arredondadas nadam mais vagarosamente e tem maior capacidade de manobrar.

Aspectos internos

O endoesqueleto consiste no crânio, coluna vertebral, costelas, cintura peitoral e de muitos pequenos ossos que sustentam os raios das nadadeiras. A caixa craniana encerra o encéfalo os órgãos pares do sentido (olfativo, óptico, auditivo) e o esqueleto visceral, que fornece as mandíbulas e os suportes para língua e o mecanismo branquial.  A coluna vertebral é formada por muitas vertebras separadas e similares, cada uma consiste em pontos de inserção das costelas e raios que articulam com os raios das nadadeiras dorsais e anal, o aparelho respiratório branquial consiste em uma câmara branquial com quatro arcos branquiais em cada lateral do opérculo.

Cada brânquia é sustentada por um arco branquial cartilaginoso com rastelos branquiais por onde são feitas as trocas de oxigênio, pois o peixe necessita de suprimento constante de água. Possui dois rins delgados e escuros que situam dorsalmente entre a bexiga natatória e as vertebras. A bexiga urinária excreta fluidos, amônia e ureia retirados do sangue que por sua vez descarrega através do seio urogenital para o exterior.

Desenho 2: Aspectos gerais internos dos peixes teleósteos.

O trato gastrointestinal ou digestivo é o tubo que vai da boca ao ânus e pelo qual passam os alimentos. Pode ser subdividido em cavidade bucal ou bucofaringeana, intestino anterior (esôfago e estômago), intestino médio (intestino propriamente dito) e intestino posterior (reto).  Os vários tecidos e órgãos relacionados a ele estão envolvidos com a apreensão, mastigação e deglutição, seguidas da digestão e absorção dos nutrientes, como também com a excreção.

Essas são variações morfológicas provocadas pela ação de fatores do ambiente sobre o organismo, podendo ser de caráter permanente, produzidas na evolução filogenética, no caso das adaptações, ou de caráter temporário, produzidas no ciclo ontogenético do indivíduo (desenvolvimento do indivíduo desde a fecundação até a maturidade reprodutiva), chamadas de modificações. Portanto, a dieta é um dos principais fatores que confere aos órgãos do aparelho digestivo características funcionais, anatômicas e morfométricas próprias para cada regime alimentar. Apesar da grande diversidade das estruturas de alimentação e de digestão dos peixes, algumas generalizações são possíveis.

Os peixes podem ser divididos, basicamente, em três grandes categorias, de acordo com o tipo de alimento consumido: os herbívoros ingerem itens de origem vegetal a maioria se alimenta de poucas espécies de plantas e, frequentemente, possuem estruturas de mastigação especializadas, obtendo o máximo valor nutricional através da completa trituração do alimento.   Os onívoros se alimentam de itens de origem animal e vegetal, possuem uma dieta mista e estruturas pouco especializadas, e os carnívoros ingerem sobretudo itens de origem animal se alimentam de invertebrados de maior tamanho e outros peixes, podendo se especializar em algum tipo em particular.

Os peixes que se alimentam de plâncton, lama ou detritos (uma mistura de sedimento, matéria orgânica em decomposição e bactérias) não podem ser facilmente classificados como herbívoros ou carnívoros, devido a diversidade da origem dos organismos, sendo classificados como planctófagos , iliófagos ou detritívoros.  Os herbívoros, onívoros e carnívoros podem ser encontrados dentro de uma mesma família.  As estruturas do aparelho digestivo são altamente adaptáveis e facilmente modificáveis, pelo menos em termos evolutivos.  Outro aspecto geral é que o comprimento do intestino está correlacionado com a dieta. Os herbívoros possuem um maior comprimento relativo do intestino, que leva em consideração o comprimento do intestino médio e do reto. Nos carnívoros esta relação varia de 0,2 a 2,5, nos onívoros entre 0,6 e 8,0 e nos herbívoros de 0,8 a 15,0.

Outro aspecto é a temperatura corporal pois os mamíferos e aves são animais homeotérmicos, ou seja, conseguem manter a temperatura corporal constante, os peixes não possuem tal capacidade, sendo conhecidos como animais pecilotérmicos ou de sangue frio a temperatura corporal dos peixes varia de acordo com as oscilações na temperatura da água.  Do ponto de vista energético a pecilotermia confere uma vantagem aos peixes comparados aos animais homeotérmicos que gastam boa parte da energia dos alimentos para a manutenção da  temperatura corporal e nos peixes é utilizada para crescimento, ganho de peso, daí o motivo da maioria dos peixes apresentarem melhor eficiência alimentar que os mamíferos e aves.

Dentro da faixa de conforto térmico para uma espécie de peixe, quanto maior a temperatura da água, maior será a atividade metabólica, o consumo de alimento e, consequentemente o crescimento. Durante os meses de outono e inverno os peixes tropicais diminuem o consumo de alimento e podem até deixar de se alimentar em dias muito frios, o que resulta em reduzido crescimento.

Fisiologia dos peixes de agua doce

Uma dos pontos chaves na piscicultura é a preparação ou escolha de rações para a espécie que se está cultivando, uma ração preparada para uma espécie herbívora dificilmente apresentará bons resultados para uma espécie carnívora. O conhecimento das necessidades e funcionamento deste alimento para cada espécie pode determinar o sucesso econômico ou fracasso da criação.     Para elaborar e usar uma ração é preciso conhecer as variações existentes na estrutura e na fisiologia do sistema digestório dos peixes, a absorção dos nutrientes, as características físico-químicas, a temperatura ideal, os resíduos nitrogenados dos diferentes ambientes aquáticos, os controles hormonais relacionados com estresse e o que acarreta. Todas estas variações serão descritas neste tópico de fisiologia de peixe.

1. Sistema Digestório

Os peixes possuem uma grande variedade de hábitos alimentares, podem ser dentritivos ou iliófagos, herbívoros, carnívoros e onívoros. E podem ser classificados em eurífagos; que são peixes que comem grande quantidade de alimentos, peixes estenófagos; que comem pequena quantidade de alimentos e ainda monófagos; peixes que comem somente um tipo de alimento. O hábito alimentar pode mudar durante a vida do animal, ou seja, quando juvenis serem zooplanctófagos, e quando adultos apresentarem hábitos de herbívoros.b.

Desenho 3: Anatomia comparativa de peixe onívoro e peixe carnívoro ( desenho-Embrapa).

Peixes fitoplanctófagos são aqueles que buscam alimentos no nível mais baixo da cadeia alimentar (algas), possuem como características principais numerosos rastros branquiais que filtram e selecionam as algas da água, como a Carpa prateada Hypophtalmichtis molitrix que é fitoplantófago, plantctófago. Peixes zooplanctófagos são aqueles que alimentam-se do zooplâncton e estão situados no segundo grau da cadeia alimentar, possuem rastros branquiais desenvolvidos para selecionar e separar organismos do zooplâncton. Geralmente estes peixes não apresentam dentes, ou apresentam diminutos, possuem bocas capazes de projetar-se. Como exemplo a Carpa cabeça grande Aristichtys nobilis, que é zooplantófago.

Peixes predadores alimentam-se de organismos macroscópios, podem ser carnívoros e ictiófagos ou piscívoros. São peixes que ingerem outros peixes, apresentam dentes fortes especialmente os caninos e os incisivos que estão dispostos até os arcos branquiais. Como exemplo temos a Traíra, Hoplias malabaricus, que é carnívoro. Peixes iliófagos buscam alimentos no fundo do viveiro ingerindo lodo, pequenos moluscos, algas, insetos aquáticos, anelídeos, como o Curimbatá, Prochilodus scrofa, que é lodófago.

Peixes herbívoros alimentam-se de vegetais superiores, macrófitas aquáticos ou de terra firme que cai na água, possuem tubo digestivo simples e longo, como exemplo temos a Carpa capim, Ctenopharygodon idella, que é macrofitófago. Peixes onívoros são aqueles que ingerem todo tipo de material orgânico disponível na água, são especialistas em triturar e roer, comem moluscos, sementes, vegetais de qualquer espécie e crustáceos, como exemplo o Tambaqui, Colossoma macropomum, onívoro. 

Cavidade Bucal e Faringe

A cavidade bucal e a faringe estão associadas com a apreensão e seleção de alimentos a ser ingerido, a dentição dos teleósteos é composta, de dentes orais, localizadas nas bordas da boca e no palato, e dentes faringeais associados com os arcos branquiais que ficam na parte posterior da cavidade opercular.

Desenho 4:Dentes orais e dentes faringeais.

O formato dos dentes está relacionado com a função: os dentes tipo agulha servem para segurar e perfurar as presas, os dentes de bordas cortantes ajudam a cortar as presas em pedaços menores. Em cascudos raspadores de substrato a boca tem forma de ventosa com papilas adesivas para aderir ao substrato, nas carpas os dentes faringeais posterior a cavidade opercular ao ingerir plantas aquáticas são pressionados durante o processo de trituração dos alimentos.

Desenho 5:Dentes tipo agulha, dentes pontiagudos, lábios de carpa.

Várias espécies planctófagas e detritívoras apresentam modificações nos arcos branquiais, os chamados rastros branquiais, que formam uma rede para capturar o plâncton, quando a água carrega as partículas de alimento para dentro do interior da cavidade oral essas partículas são  carreadas pelos rastros branquiais que funcionam como um filtro direcionando o alimento para o esôfago. Nas espécies carnívoras os arcos branquiais curtos e grossos e tem a função de facilitar a apreensão da presa.

 Na tilápia Oreochromis niloticus e em Pirapitinga Piaractus macropomum o sistema de filtração pelos rastros branquiais é auxiliado por uma camada de muco situada nessa região, quando partículas alimentares pequenas grudam e depois seguem para o esôfago acompanhando o fluxo de água.  Nos peixes predadores com a truta arco-íris Oncorhynchus mykiss e na traíra Hoplias malabaricus, quando a presa está próxima da boca levantam o crânio e abaixam a mandíbula e dilatam o opérculo aumentando a cavidade bucal e opercular que provoca um aumento do fluxo para dentro da boca de água sugando a presa.

 A classificação dos dentes podem ser, devido à localização, como mandibulares presentes no maxilar e pré-maximilar, os bucais presentes no palatino ectopterigóide e assoalho da boca, faringeais encontra-se no 3°;4°;5° arcos branquiais superiores e inferiores. Podem ser ainda classificados de acordo com sua forma como cardiformes que são curtos, numerosos e pontiagudos, como viliformes que são alongados e espessos, como caninos pontiagudos, servindo para perfurar e segurar as presas, ainda como incisivos que possuem extremidades cortantes e molariformes apresentam a superfície achatada, servindo para triturar e moer.

Esôfago

Porção que liga a cavidade opercular com o estômago, geralmente curto de paredes espessas de difícil identificação, sua identificação é baseada nas pregas da mucosa, observadas em análise histológica. Esta porção possui células mucosas que produzem muco para lubrificação.

Estômago

O estômago pode ser dividido em três regiões, que são a cárdica na porção de entrada, fúndica tipo saco e pilórica na saída. A cárdia e o piloro possuem esfíncteres que controlam a passagem dos alimentos pelo estômago, porém, em alguns peixes, o esfíncter cárdico pode estar ausente. A superfície interna, a mucosa contém uma variedade de células glandulares endócrinas e secretoras exócrinas. Estas últimas produzem o muco e o suco gástrico. As características das glândulas gástricas variam conforme o hábito alimentar do peixe, sendo mais ramificadas e desenvolvidas nos peixes carnívoros.

O estômago armazena temporariamente o alimento e desempenha funções mecânicas que auxiliam na trituração e início da digestão dos alimentos. O tamanho do estômago pode ser usualmente relacionado com o intervalo entre as refeições e o tamanho das partículas do alimento ingerido. Os peixes que consomem grandes presas em intervalos esparsos possuem grandes estômagos e aqueles que se alimentam de pequenas partículas animais micrófagos possuem frequentemente pequenos estômagos ou não os possuem, como exemplo a Carpa comum Cyprinius carpio. Peixes dentritivos como nas tainhas e nos curimbatás Prochilodus sp e Acarás Geophagus brasiliensis que se alimentam de zooplâncton apresentam o estômago com baixa capacidade de armazenamento mas bem musculoso e com fortes contrações para fragmentar os alimentos.

Intestino

Um longo tubo com pregas que tem como funções completar a digestão no estômago e absorver nutrientes, água e íons. Algumas espécies apresentam os cecos pilóricos, que são projeções digitiformes da região proximal, estes cecos são adaptações para aumentar a área do intestino e são mais desenvolvidos em peixes carnívoros, detritívoros e onívoros e reduzidos ou mesmo ausentes em peixes herbívoros.

 O intestino é responsável por grande parte da digestão de lipídeos e proteínas recebe as secreções pancreáticas e biliar, tendo um pH neutro 7,0-7,5 ainda participam da absorção de aminoácidos, carboidratos, lipídios, água e íons. Peixes como a traíra na fase inicial são insetívoros e apresentam intestino mais longo que os adultos.   Nos carnívoros o intestino é curto tendo uma quantidade de alimento ingerido menor mas o tipo de alimento uma maior quantidade de nutrientes aproveitáveis, nos herbívoros a qualidade do alimento requer uma passagem mais lenta para as enzimas agirem e aumentar a eficácia da alimentação.

 Os peixes onívoros e herbívoros apresentam a capacidade de alterar a estrutura e as propriedade absortivas do seu sistema digestório em resposta a mudança na dieta. Por exemplo um aumento de carboidratos na alimentação pode provocar um aumento do comprimento do intestino e da absorção de glicose em alguns teleósteos. Peixes carnívoros como a truta não possuem esta capacidade de alterar a estrutura do trato digestório nem aumentar a absorção de carboidratos quando administrados em dietas ricas em carboidratos.

Desenho 6: Diferentes tratos digestivos dos peixes.

Fígado

Glândula derivada embrionariamente do intestino, situa-se dentro da cavidade abdominal e é separada da cavidade pericárdica por um septo transversal, possui formas diversas com lobos pares e impares de coloração escura tendo como anexo a vesícula biliar.

Pâncreas e vesícula biliar

 O pâncreas aparece difuso e se estende ao longo de todo intestino, desde a vesícula biliar e baço até próximo ao ânus. Possui dois tipos de secreções que são liberadas no intestino ou cecos pilóricos que ajudam a neutralizar o quimo ácido do estômago. A vesícula biliar localizada junto ao fígado e intestino contem sais biliares que auxiliam na digestão de lipídios. Até o momento não se encontrou nenhuma relação entre o volume, tamanho e conteúdo iônico da vesícula biliar e o hábito alimentar do peixe.

2. Sistema sensorial

Os órgãos do sentido nos peixes consistem em: primeiro, as células receptoras periféricas especializadas que captam as variações do meio e, através de neurônios integradores no Sistema Nervoso Central. Estes receptores respondem adequadamente aos estímulos captados, variam de células isoladas como os corpúsculos tácteis a estruturas complexas como os olhos. Os peixes possuem quimiorreceptores altamente desenvolvidos para detectar sabores e odores devido ao meio que vivem.

 Em segundo, o cutâneo que são terminações nervosas na epiderme que detectam variações da água percebem diferenças mínimas de até 0,03°C.

Em terceiro, o órgão gustativo que são células quimiorreceptoras existentes nos botões gustativos do barbilhões e cabeça para identificar o gosto. Estes corpúsculos gustativos são estimulados por produtos químicos em solução na água e a localização destes órgãos estão distribuídas mais frequentemente nas regiões da cabeça e na boca, mas podem estar espalhados por outras partes da superfície do corpo incluindo as nadadeiras.

Desenho 7:  Estrutura de um neuromasto. (a) Parede do corpo de carpa em secção longitudinal, mostrando o sistema sensitivo da linha lateral (b).

Em quarto, a Linha lateral apresenta um sistema sensorial altamente desenvolvido, formado por células sensoriais receptoras denominadas de neuromastos, que estão interligados por canais fechados e situados abaixo das escamas ao longo da lateral do corpo dos peixes, abrindo-se para o meio exterior através de pequenos poros que detectam movimentos da pressão hidrostática e suas variações.   Os neuromastos são formados por um feixe de células alongadas e ciliadas na extremidade. O processo ciliar inclui uma massa de material gelatinoso denominado de cúpula que é secretado pelas células sensoriais.

Em quinto, a visão importante para alguns peixes e menos para outros, em geral os peixes encontrados em águas paradas escuras com sedimentos suspensos e florescimento de algas dependem menos da visão, apresenta o cristalino esférico e transparente conferindo aos peixes alto poder de resolução a curta distância. A córnea é transparente sem pigmentação podendo existir membranas amarelas ou verdes a íris forma a pupila e controla a quantidade de luz que atinge a retina.

Em sexto, a audição: os peixes não possuem ouvido externo como na maioria dos vertebrados superiores utilizam receptores de som como a bexiga natatória e outros receptores no corpo como a linha lateral. Os ouvidos internos responsáveis pela função auditiva nos peixes estão localizados no crânio, atrás dos olhos da maioria dos peixes.  

Os peixes produzem sons de diversas maneiras dependendo da espécie podendo mover as nadadeiras contra as partes do corpo, atritar os dentes faríngeos, liberar gás pelo ducto da bexiga natatória ou vibrar suas paredes com músculos especiais.  Os sons podem servir par reunir indivíduos para reprodução ou para a alimentação. Em algumas espécies eles são emitidos durante o comportamento agressivo ou defensivo e eles podem ser importantes no comportamento territorial.

Em muitas espécies os sons são transmitidos através do corpo para o ouvido interno. Em alguns teleósteos, entretanto o ouvido interno está ligado a bexiga natatória cujas paredes vibram com os sons subaquáticos como um hidrofone.   A ligação pode ser direta através de uma conexão semelhante a um estetoscópio até a cápsula auditiva ou indireta através de diversos ossos pequenos, os ossículos de Weber. Em sétimo temos os órgãos olfativos, constituídos por um par de fossas nasais na região dorso anterior da cabeça, não possuem conexão direta com o aparelho respiratório. Elas são revestidas por pregas ou cristas do epitélio sensitivo que comunicam com o cérebro através de nervos olfatórios.  A função básica do sistema olfativo nos peixes é procurar alimentos, orientar e alarme, em algumas espécies são muitos acurados.

3. Sistema Circulatório

Os peixes são heterotérmicos, animais de sangue frio, possuem sangue vermelho adaptando a temperatura do seu corpo a do meio ambiente, o volume sanguíneo representa 2% os peso do corpo sem incluir a linfa. Dos ciclóstomos aos teleósteos com exceção dos dipnóicos (além de guelras, têm um ou dois pulmões funcionais) o sistema circulatório é simples pois somente o sangue oxigenado passa pelo coração caracterizando um fluxo sanguíneo único.

                   Desenho: 8 Esquema do sistema circulatório em teleósteos.

O coração está localizado logo atrás das guelras e estruturalmente é constituído pelo seio venoso, átrio, ventrículo e cone arterial, de onde se prolonga a artéria aorta ventral. A parede do seio venoso é fina e está separada do átrio através das duas válvulas, o átrio tem parede um pouco mais espessa e comunica-se com o ventrículo pelo orifício atrioventricular.

4. Sistema Respiratório

As necessidades respiratórias dos peixes são variáveis e dependem de sua fase de desenvolvimento, da idade, da altitude, da temperatura ambiente e da natureza do meio que vivem nos lagos, rios ou viveiros de criação. Os peixes continentais são mais exigentes de oxigênio do que os peixes marinhos, respiram por meio de brânquias (guelras), local onde ocorre as trocas gasosas e o sangue se arterializa. As brânquias são quatro estruturas lisas lamelares e pares localizadas dentro da cavidade branquial ao lado da faringe, nelas ramificam uma extensa rede capilar sanguínea protegida por delgada membrana de coloração vermelha.

As brânquias estão constituídas de filamentos que se apoiam em arcos cartilaginosos ou arcos branquiais e que apoiam os rastros branquiais que são estruturas especializadas na retenção e seleção de alimentos encontrados na água e comunicam diretamente com a faringe. Os rastros branquiais variam conforme os hábitos alimentares dos peixes características anatômicas que facilitam a retenção e orientação para o esôfago.  O trânsito da água para oxigenação do sangue ocorre quando a água entra pela boca percorre a faringe passa através dos arcos branquiais e sai pela abertura do opérculo. A medida que passa pelos filamentos branquiais o oxigênio (O2) dissolvido penetra nos capilares que irrigam o filamento ao mesmo tempo que o gás carbônico (CO2) passa do sangue para água.

Desenho 9. Brânquias de um peixe ósseo: brânquias na câmara branquial com o opérculo cortado. (a). parte de uma brânquia mostrando os rastelos e filamentos branquiais, com a direção no sangue dos vasos aferentes escuros, vasos eferentes claros (b). parte de um filamento, ampliado; cada lamela contém capilares onde o sangue é arterializado e a direção das correntes de água e do sangue são mostradas, por setas(c).

A bexiga natatória ou vesícula gasosa é o apêndice hidrostático dos peixes. Ela ajuda a manter a posição na coluna de água, alterando a densidade corporal. É um órgão alongado cheio de gases apresentando-se em diferentes formatos. Possui além da função hidrostática as funções sensoriais, acústica, e as vezes respiratórias como no caso do pirarucu Arapaima gigas.

Desenho 10. Bexiga natatória nos peixes.

Os peixes que possuem vesícula gasosa ligada ao esôfago através de um ducto pneumático são denominados de fisóstomos e aqueles que não possuem tal estrutura são chamados de fisósclitos. Espécies de água corrente são desprovidas de bexiga natatória e é bem desenvolvida nas espécies mesopelágicas que necessitam subida e descida ao nível da coluna de água para alimentação.

5. Sistema reprodutivo

Os peixes apresentam um aparelho reprodutivo simples formado de ovários para fêmeas e testículos nos machos. Os ovários são estruturas pares, com formas e dimensões diversas e estão localizados longitudinalmente no corpo sob a bexiga natatória, suspensos pelo mesentério paralelamente aos rins. Depois do ovário encontramos o oviduto que pode ter um alargamento para estoque, deposição de óvulos e termina no poro urogenital que comunica com o exterior.

 Os óvulos variam conforme a espécie em número de 2.000 a 2.000.000, de tamanho de 0,8 a 21mm, com forma esférica, cilíndrica, fusiforme ou elíptico. Apresentam membrana coriônica e vitelínica com um espaço perivitelínco entre estas, na face externa apresenta a micrópila por onde penetra o espermatozoide.

Os testículos são estruturas pares longitudinais em relação ao corpo, compactos e regulares variando a forma e peso conforme o estágio de maturação. Os espermatozoides possuem a cabeça alongada ou curta, uma porção intermediária e cauda com tamanho de 2 a 130 µ , são bastante numerosos e podem ter sobrevivência no meio externo de 20 segundos até 5 min.

Sexagem e Fecundação

A sexagem é a separação dos machos e das fêmeas para fazer a reprodução. É realizada no período que antecede a reprodução através de uma pressão ventral no sentido céfalo-caudal nas fêmeas e nos machos a pressão ventral flui o esperma de cor leitosa e viscosa. O dimorfismo sexual aparece em algumas espécies no período reprodutivo.  As características sexuais podem ser classificadas em primárias como os ovários, os testículos e os ductos, secundárias como papila urogenital, modificações das nadadeiras pélvicas, proporção do corpo, secreções, aspereza frontal, dicromatismo sexual e modificações comportamentais.

As características sexuais secundárias podem ser transitórias ou permanentes dependendo dos hormônios sexuais gonadais e da integridade do eixo hipotálamo-hipófise.  No dimorfismo sexual transitório nos machos, forma de atração, temos no Tucunaré Cicla sp, o aparecimento de protuberância como um cupim entre a cabeça e a nadadeira dorsal. No pirarucu Arapaima gigas a borda das escamas ficam avermelhadas.

Desenho 11. Dimorfismo sexual transitório nos machos, a. protuberância na cabeça no tucunaré, b. cor avermelhada das escamas do pirarucu.

O dimorfismo sexual permanente como na Tilápia do Nilo Oreochromis niloticus, existe uma diferença entre macho e fêmea no formato e número de orifícios na papila genital, no macho afilada e na fêmea menos afilada e com dois orifícios. Quanto a fecundação os peixes podem ser: ovulíparos, quando a fecundação e desenvolvimento são externos; ovíparos, quando a fecundação é interna e desenvolvimento externo (ex: as raias); ovovivíparos, com fecundação interna e desenvolvimento interno (ex: os lebistes) e vivíparos, fecundação e desenvolvimento internos, como nos seláquios (arraias).

Desenho 12. Dimorfismo sexual permanente a. orifício urogenital no macho de tilápia b. orifício urogenital na fêmea de tilápia.

 Fonte: Apostila curso Antherotec/ Anthero2022

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