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AntheroTec

Curso Antherotec – 2 unidade – Espécies comerciais de peixes

1.TILÁPIAS

Tilápia (Oreochromis niloticus)

As tilápias, espécie de origem africana (são identificadas aproximadamente 70 espécies) estão entre os peixes mais indicados para a criação em regiões tropicais. Foi introduzida no Brasil a partir de 1953, com a importação da tilápia rendalli, proveniente do Congo Belga. Em 1971, foram importadas as espécies tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e a tilápia Zanzibar (Oreochromis hornorum), que apresentam características essenciais para a piscicultura, como rusticidade, precocidade, hábito alimentar onívoro, boa aceitação pelo consumidor e alto valor de mercado.  

A tilápia do Nilo da linhagem Chitralada teve sua introdução oficial no Brasil no ano de 1996, com exemplares importados do Agricultural and Aquatic Systems, do Asian Institute of Technology (AIT), com sede na Tailândia.   A sua importação foi realizada pela Associação de Produtores de Alevinos do Estado do Paraná e pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná. As tilápias constituem a ordem dos Perciformes, família Ciclidae, divididas em várias centenas de espécies e a espécie Oreochromis niloticus é nativa da África, do Vale Jordan e da costa do rio Palestina.

É a espécie de tilápia mais cultivada no mundo e se destaca das demais pelo crescimento mais rápido, reprodução mais tardia permitindo alcançar maior tamanho antes da primeira reprodução e alta prolificidade, possibilitando produção de grandes quantidades de ovos e alevinos.   A tilápia do Nilo apresenta grande habilidade em se alimentar do plâncton. Assim, quando cultivada em viveiros de águas verdes, supera em crescimento e conversão alimentar as demais espécies de tilápias. A coloração deste gênero geralmente é cinza escuro, com nadadeiras caudais apresentando listras pretas delgadas e verticais.

Os machos, durante o período reprodutivo, apresentam a superfície ventral do corpo e as nadadeiras anais, dorsais e pélvicas pretas, a cabeça e o corpo com manchas vermelha.  A tilápia do Nilo é considerada uma das espécies mais promissoras para piscicultura por exibir características de interesse zootécnico como rápido crescimento em sistema intensivo e rusticidade.

Carne com boas características organolépticas, filé firme sem espinhos intramusculares com baixo teor de gordura (0,9 g/100 g de carne) cerca de 2,1% de gordura por filé de 120g. Baixa calorias cerca de 172 kcal/100 g de carne, ausência de espinhas em forma de “Y” (mioceptos) e rendimento de filé de aproximadamente 33% a 37%, em exemplares com peso médio de 800 g o que a potencializa como peixe para industrialização. Boa aceitação de mercado, boa conversão alimentar e facilidade de encontrar alevinos constante e baratos.

A produção de tilápia no Brasil segundo Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura (MPA, 2011) foi de 133 toneladas, cerca de mais de 50% de toda produção de peixes. Ela está presente na maioria dos Estados brasileiros.  Vários fatores concorreram para o destaque da tilápia na piscicultura brasileira, além da fácil adaptação às variadas condições de cultivo das diferentes regiões do país temos que alimentam-se dos itens básicos da cadeia trófica e tem curto ciclo de engorda, cerca de seis meses. Aceitam uma grande variedade de alimentos, respondem com eficiência à ingestão de proteínas de origem vegetal e animal e são bastante resistentes às doenças. Aceita superpovoamentos e baixos teores de oxigênio dissolvido e desovam durante todo o ano nas regiões mais quentes do país.

 

Sistemas de criação da Tilápia

  1. método convencional é utilizado para aproveitamento de açudes existentes nas propriedades rurais, povoa-se o açude com alevinos de 5cm (10g), na densidade de 1 peixe por m². Inicia-se a despesca dos maiores após 6 meses de cultivo. A despesca deverá ser periódica com rede de arrasto, com malha de 10cm entre nós, retirando os peixes acima de 0,5kg.  Os açudes podem ser fertilizados com estercos de ave, suíno, bovino, e com subprodutos agrícolas existentes na propriedade. Com esse arraçoamento pode-se conseguir uma produção de 0,800 a 1,5 ton/ha/ano.
  1. método consórcio com predador consiste de colocar no viveiro espécie carnívora que controle larvas e alevinos de tilápia. A escolha deste predador depende da região que se faz o cultivo como o uso do Tucunaré Cicla ocellaris , para regiões quentes e que tenham estes carnívoros na bacia, o Black-bass  Micropterus salmoides  para regiões mais frias e serranas como nos Estados do Sul e Sudeste. Ainda o Trairão Hoplias lacerdae, Pintado Pseudoplastistoma corrucans e o Dourado Salminus maxillosus para regiões onde se tenham estes carnívoros na região. A proporção utilizada deve ser de 85% de tilápias para 15% de peixe predador, os alevinos dos predadores devem ser menores ou iguais aos da tilápia e anualmente deve-se fazer o esvaziamento do viveiro. Densidade 1 peixe para cada 5m².
  1. método monosexo consiste em produzir somente machos, pois crescem de 2 a 4 vezes mais rápidos do que as fêmeas e evita a superpopulação nos viveiros. Através da reversão sexual a partir das larvas de tilápias com 10 dias de vida, fornecendo ração contendo hormônio masculinizante durante 60 dias. A densidade de estocagem para engorda no cultivo de tilápia macho varia conforme a tecnologia empregada.

Sistema de cultivo 

  1. sistema RAS, consiste na criação superintensiva de tilápias em tanques pequenos (10 a 100m³) de concreto, retangulares ou circulares e com dreno central dispostos em séries. Os peixes são estocados a 70 a 120peixes/m². e a renovação da água do tanque de 1 a 4 vezes por hora com uma produção esperada de 70 a 200kg/m³/safra.
  2. Sistema cultivo intensivo: com aeração de emergência, o fluxo de água pode ser aumentado ou reduzido conforme a necessidade. A densidade de 1 a 3 peixe/m² em viveiros escavados. Arraçoamento de 2 a 4% da biomassa (80 a 120kg/ha/dia). Acionamento de aeradores quando atinge valores mínimos 2,5mg/l de O2. Produtividade de 10 ton/ha/safra. Outra variação seria com aeração constante, e com troca d’água, alimentação artificial, dieta completa 5 a 10 peixes/m² com produtividade 15 a 20 ton/ha/safra e dependendo da vazão 20 a 30 ton/ha/safra.
  3. Sistema: de tanque rede ou gaiolas de 4 a 1000m³, em média de 70m³(5x7x2m) com alto fluxo de água, peso inicial na gaiola de 40 a 50g, densidade final de 80 kg/m³. Alimentação com ração extrusada 26 a 30%PB, alimentação 5% da biomassa, conversão alimentar 1:1,7. O segundo tipo com baixo fluxo de água, densidade para engorda de 25kg/m³.

 As tilápias são basicamente fitoplantófagas utilizando os organismos plantônicos presente no meio aquático. Aceita bem alimentos artificiais nas diferentes formas, farelada, peletizada e extrusada. Este hábito alimentar confere as tilápias utilizar proteínas de alta qualidade através do uso de fontes alternativas de proteína de menor custo. 

 Para alimentação, a frequência, tipo, quantidade, e qualidade da dieta a ser fornecida devem ser adaptadas de acordo com a espécie em cultivo geralmente nilóticas, idade, sistema de manejo empregado, entre outros fatores. O fornecimento das rações pode ser manual (podendo observar diariamente o movimento dos peixes) ou por comedouros que detectam a perda ou não do alimento.

Para fase inicial da criação o aproveitamento do plâncton deve ser considerado e fornecido juntamente com a ração com peso de 0,5g a 10g, adubação de 200kg esterco aves distribuídos em 15 dias ou 300kg esterco suínos distribuídos em 15 dias ou 500kg esterco bovino distribuídos em 15 dias.

2.PACU , TAMBAQUI E TAMBACU

Pacu (Piaractus mesopotamicus)

O pacu Piaractus mesopotamicus , peixe nativo encontrado na América do Sul restrito a bacia da Prata mais especificamente dos Rios Paraná e Paraguai, com principal ocorrência no Pantanal do Mato Grosso, na Bacia do Alto Paraguai. Espécie tropical encontrado em água doce de áreas que se estendem do nordeste da Argentina até o centro-oeste brasileiro.

Os rios do pantanal mato-grossense são um dos seus principais habitats. Ambientes onde a temperatura média é de 28° C são ideais para o seu desenvolvimento. Porém, se adaptado a regiões mais frias, tem capacidade para suportar até 16° C. Coberto de escamas, o pacu tem coloração cinza com nuances de lilás ou com manchas em tons alaranjados.

O formato prensado do corpo, comprimido nas laterais, deu a ele o apelido de “peixe redondo”. O dorso e a barriga formam uma curva alongada ampliando espaço para acomodar uma carne farta, que é bastante apreciada pela sua textura e sabor. Apesar de atingir até 18 kg na natureza, em viveiros pode ultrapassar 1,1 kg com 50 centímetros em um ano de cultivo. Em geral, o peso ideal para a comercialização é de 1,5 kg.

Peixe de hábito alimentar onívoro-frugívoro com tendências a herbívoro, quando mantido em confinamento aceita rações formuladas. É um peixe de piracema de desova total, com reprodução ocorrendo uma vez ao ano, entre novembro e janeiro. Fecundação obtida através de injeção de hormônio natural e ou sintético, desova total externa em ambientes naturais nos meses de novembro e dezembro, período de maturação das gônadas. Uma fêmea produz cerca de 1200 ovócitos/ 100g de desova. A maturidade sexual é atingida a partir dos 4 anos de idade.

 Pacu (Piaractus mesopotamicus)

Nas fases de larvas e alevinos, alimentam-se principalmente de zooplâncton, passando a ingerir posteriormente frutas, sementes, pequenos moluscos, crustáceos e insetos. A criação no sistema semi-intensivo tem apresentado resultados satisfatórios par esta espécie usando 1 peixe/m² obtém-se um peso final de 1,5 kg em 15 meses. Para regiões de baixa oxigenação a densidade de estocagem mais viável deve ser de 0,6 peixes/m².  As rações comerciais com 28% de proteína bruta são aceitáveis para esta espécie.

Tambaqui (Colossoma macropomum)

O tambaqui Colossoma macropomum, peixe nativo originário da bacia amazônica, considerado o segundo maior peixe de escama da América do Sul, atinge cerca de 90 cm e 30kg, espécie de desova total e hábito alimentar semelhante ao pacu. É uma das criações mais presentes em todo o Brasil, já que está presente em 24 dos 27 Estados, sendo o Amazonas o maior produtor.

Tambaqui Colossoma macropomum

Possui a capacidade de filtrar zooplâncton devido a presença de rastros branquiais. Animal pouco resistente as variações bruscas de temperatura, devendo manejá-lo somente nos meses quentes quando em cativeiro.  O tambaqui é um peixe de escama, corpo romboidal, nadadeira adiposa curta com raios na extremidade; dentes molariformes e rastros branquiais longos e numerosos. A coloração geralmente é parda na metade superior e preta na metade inferior do corpo pode variar para mais clara ou mais escura dependendo da cor da água. Os alevinos de 40 dias de idade apresentam uma mancha preta, uma espécie de “olho” no meio do lado, acima da linha lateral, que, com o tempo vai desaparecendo lentamente.

É uma espécie reofílica (não desova em cativeiro), a tecnologia de sua propagação artificial, já está dominada, não ocorrendo limitações na oferta de seus alevinos. A alimentação principal do tambaqui é constituída por microcrustáceos planctônicos e frutas. Come também algas filamentosas, plantas aquáticas frescas e em decomposição, insetos aquáticos e terrestres que caem na água, caracóis, caramujos, frutas secas e carnosas e sementes duras e moles. 

O tambaqui alimenta-se rápido e agressivamente, não dando tempo para outros peixes comerem, no entanto em sistema de policultivo pode ser cultivado junto com o curimatã, a carpa comum, a carpa prateada, a carpa cabeça grande e a carpa capim. Atinge peso médio de 1,5 Kg em um ano de cultivo, podendo chegar até 3 Kg de peso vivo, em criações comerciais.

Sistema de criação do Tambaqui

Para criação comercial do tambaqui temos o sistema extensivo que tem a sua principal característica a alimentação natural, densidade de estocagem menor que 2.000 peixes/ha, sem monitoramento da qualidade de água e viveiros sem planejamento de biometrias e controle de mortalidade.  No sistema semi-intensivo usa-se alimentação natural e suplementar, densidade de estocagem de 5.000 a 20.000 peixes/ha, monitoramento parcial da qualidade de água e viveiros construídos com planejamento prévio. No Brasil cerca de 95% da produção de peixes é proveniente deste sistema.

 O sistema intensivo tem trazido excelentes resultados com a recuperação de capital em 2,8 anos. Com alimentação completa de rações comerciais, densidade de estocagem de 10.000 a 100.000 peixes/ha, monitoramento total da qualidade da água e os tanques construídos com planejamento nas densidades de estocagem, biometrias e controle de água do viveiro, aeração suplementar ou constante, normalmente associado ao monocultivo.   E o sistema superintensivo: ocorre alta renovação de água, uso de aeração nos tanques, a densidade de estocagem já é expressa em biomassa por m³, a ração deve ser nutricionalmente completa e ter estabilidade na água, pois é a principal fonte de alimento, como exemplo o, RAS, raceway e tanques-rede.

         

O tambaqui é uma espécie que pode ser uma alternativa viável para a criação em tanques-rede em propriedades rurais que possuem pequenos lagos e açudes comunitários que não podem ser drenados para a despesca devido à sua rusticidade e desempenho.É a espécie que está sendo recomendada para o cultivo em tanques-rede nos lagos da região amazônica. Os trabalhos existentes sobre o cultivo de tambaqui neste sistema ainda estão em fase inicial, existindo poucos trabalhos que suportem sua produção.

A densidade de estocagem deve ser 100 a150 peixes/m³, sendo que no cultivo de tambaqui em tanques-rede um melhor desempenho de produção para a densidade de 150 peixes/m³, em pequenos reservatório nas propriedades rurais. O tambaqui aceita rações balanceadas com 28% e 32% de proteína bruta na dieta, apresenta nadadeira adiposa óssea com raios, dorso pardo-escuro e ventre esbranquiçado.

Tambacu (híbrido)

O tambacu é um híbrido oriundo do cruzamento entre o macho de pacu (Piaractus mesopotamicus) e a fêmea do tambaqui (Colossoma macropomum), criado objetivando o potencial de crescimento, a resistência para seu cultivo em regiões mais frias e a resistência a impactos ambientais. Hoje é um peixe de grande importância econômica na piscicultura brasileira já que apresenta um rápido crescimento e ganho de peso, além de ser muito apreciado na pesca esportiva e amadora.

O Estado Mato Grosso é o maior produtor com cerca de 6000 toneladas. Existe uma grande produção e aceitação desse peixe pelas pisciculturas e peixarias deste Estado por ser precoce, rústico e com boas características zootécnicas colocando-o acima do pacu e tambaqui.

Tambacu (híbrido)

3.BAGRES

 Bagre Cachara (Pseudoplatystoma faciatum)

 O cachara também chamado de surubim, Pseudoplatystoma fasciatum, é um peixe de couro pertencente à ordem dos Siluriformes, família Pimelodidae, sendo bastante procurado para consumo por apresentar alta aceitabilidade de carne com elevada proporção de filé com ausência de espinhas. Grande parte desses peixes é capturado através da pesca tradicional em rios e lagos e com o aumento na atividade de pesca profissional e amadora, a dificuldade de captura desses exemplares aumenta e, com a maior dificuldade na captura dos peixes eleva-se o seu custo.

Cachara (Pseudoplatystoma faciatum)

É a espécie mais distribuída nas bacias do rios Amazonas e Paraná-Paraguai, é muito parecido com seu primo o pintado Pseudoplatystoma corrucans sendo diferenciados pelas listras na cachara e pintas no pintado. Pode atingir 80cm, não existe dimorfismo entre os sexos para relação peso comprimento e para índices morfométricos, onde as fêmeas tem um crescimento mais acelerado que os machos.

 Apresenta uma carne nobre de alto valor comercial, saborosa e tenra com baixo teor de gordura e ausência de espinhos intramusculares e podem ser apresentado de diferentes formas de apresentação ao consumidor final.

 O período reprodutivo é curto uma espécie migradora que reproduz nos leitos dos rios na estação chuvosa podendo ir de novembro até março tem a desova total com elevada fecundidade. Não protege a prole e libera os ovos que ficam livres na superfície da coluna d’agua de coloração amarela e a embriogênese ocorre rapidamente cerca de 16 horas a uma temperatura próxima de 23° C. Atingem a maturação sexual com 2 anos para os machos e 3 anos para as fêmeas. Peixe carnívoro predador alimenta-se durante a noite e não possui dentes cortantes, engole suas presas inteiras

Sistema de criação do Cachara

Apesar de não se ter um pacote tecnológico completo para a produção do cachara surubim, seu grande potencial produtivo e a qualidade da sua carne despertam interesse de diversos pesquisadores e órgãos de fomento muitos anos, sendo prioridade em projetos de pesquisa e desenvolvimento nacional e estadual.

O cachara pode ser criado em sistemas intensivos em viveiros escavados como também em tanques-redes. Nos viveiros escavados distribuídos em três fases. Primeira fase alevinagem de 20 a 200 g durante 90 dias, com uma sobrevivência de 90 % dos peixes, na segunda fase juvenil de 200g a 1,2 kg durante 135 dias, com uma sobrevivência de 96% dos peixes, na terceira fase de engorda 1,2 a 2,0 kg durante 135 dias, com uma sobrevivência de 94% dos peixes.

 Na terceira fase de criação no sistema semi-intensivo, a densidade de estocagem pode ser de 0,5kg de peixe/m² e a produção esperada pode ser de 4.800kg/ha. A criação de alevinos e juvenis em sistemas de fluxo contínuo de água (“raceway”) e em viveiros, respectivamente em sistema com renovação contínua de água, obteve sobrevivência média das larvas de 65,6% após oito dias de cultivo.

A avaliação de diferentes densidades de estocagem em tanques-rede foi analisada onde alevinos de surubim de 50 gramas (P.coruscans) foram estocados nas densidades de 35, 70, e 105 peixes/m³. O peso médio alcançado pelos animais foi de 197,4g, 171,15g e 161,45g, respectivamente. O maior peso final foi atribuído à menor densidade de estocagem inicial, sendo que as sobrevivências foram de 95,97%, 97,80% e 96,73%, e conversão alimentar de 1,49; 1,60 e 1,56 para cada tratamento.

Bagre Pintado (Pseudoplatystoma corruscans)

O pintado Pseudoplatystoma corruscans, peixe de couro muito apreciado pela sua carne sem “espinhas”, comercializada inteira ou em postas. Peixe da ordem dos siluriformes que engloba mais de 2.200 espécies de bagres. Existe um grande demanda destes bagres contudo a fonte proveniente da pesca em ambiente natural não atende o mercado e esforços para o cultivo são cada vez mais incentivados pelos órgãos de fomento.

Pintado surubim (Pseudoplatystoma corruscans)

Este gênero apresenta três espécies Pseudoplatystoma corruscans das bacias do Paraná e do São Francisco, o Pseudoplatystoma fasciatum presente nas bacias do Paraná e Amazônica descrito no item (3.1.8.) e o Pseudoplatystoma tigrinus nativa somente da bacia Amazônica onde é conhecido como caparari.

Pintado caparari (Pseudoplatystoma tigrinus)

Para a fase inicial de criação dos siluriformes, na larvicultura, em função da pouca aceitabilidade das rações comerciais tem-se usado artêmia, o que encarece o custo unitário e oferta de alevinos. Durante a fase adulta o pintado alimenta-se de peixes, crustáceos, e insetos. Para cultivo intensivo tem-se usado rações comerciais com alto teor de proteínas em viveiros específicos de engorda. Usado para controle de peixes prolíferos como a tilápia, em baixas densidades 1 peixe/ 10 m² de viveiro. O uso de sistemas de criação intensiva é recomendado pois esta espécie é exigente na qualidade de água e os sistemas de raceway e tanque rede , ou RAS, podem ser uma alternativa na criação.

Bagre Jundiá (Rhandia quelen)

O jundiá Rhamdia quelen é uma espécie nativa da região sul que se destaca como muito promissora. É um peixe de rápido crescimento, com fácil adaptação à criação intensiva, rústico, facilmente induzida à reprodução, com alta taxa de fecundação, possuindo ainda carne saborosa com baixo teor de gordura e com poucas espinhas.

Este peixe ainda tem uma série de informações que o produtor desconhece, tais como sua exigência em proteína, energia metabolizável, balanço de aminoácidos, portanto o modelo e perfil de partida para a pesquisa é o bagre-norte-americano, catfish ou peixe gato Ictalurus punctatus e suas exigências para adequação de uma dieta ótima para os sistemas de produção que se deseja a curto prazo.

Uma espécie distribuída na América do Sul, incluindo a região Sul do Rio Grande do Sul, o Jundiá é um peixe que habita rios com fundo arenoso e remansos de rios, próximos à boca do canal, onde procura seu alimento. É um peixe onívoro, com tendência a piscívoro, e bentônico, especulador do substrato, também alimenta-se de insetos terrestres e aquáticos, crustáceos e restos vegetais, além de peixes como os lambaris e os guarus.

 O Jundiá desova em locais com água limpa, calma e de fundo pedregoso, não apresenta cuidado parental, e apresenta desova múltipla, com dois picos reprodutivos por ano um no verão e outro na primavera. É um peixe de couro, possui coloração acinzentada-escura e ventre branco. É um animal de carne saborosa, com baixo teor de gordura e poucas espinhas e pode atingir 50cm de comprimento e 3kg de peso.

Bagre Randia (Rhandia quelen)

Sistema de criação do Jundiá

O Jundiá pode ser criado em policultivo associado as carpas na proporção de 1 bagre: 5 carpas ou em monocultivo intensivo em tanques redes na densidade de 40kg/m³ na fase final de engorda.  Em sistema de monocultivo em viveiros escavados a fase inicial com densidade de 3 a 4 peixes/m², passando para fase recria e engorda com 1 a 2 peixes/m² com uma sobrevivência de 97%. A ração inicial com 40% de proteína bruta e na fase de engorda com rações de 32% de proteína bruta.

Bagre africano (Clarias gariepinus)

Conhecido também como Clarias, pertence à ordem dos siluriformes, da família Clariidae o bagre Clarias gariepinus, animal de origem Africana, distribui-se amplamente em Israel, Líbano, Egito e Turquia. Animal largamente difundido na aquicultura mundial sendo introduzido no Brasil em 1986, encontrado em vários Estados brasileiros como Rio de Janeiro, Espirito Santo e em Santa Catarina que é o maior produtor com cerca de 58,9% de toda produção segundo IBAMA(2009).

 O interesse em seu cultivo é cada vez maior. Comumente habita em brejos, lagos rios, ambientes bem variados, animal carnívoro que pode ser consorciado com tilápias. É um peixe sem escamas, com pigmentação marrom na face dorsal e marfim na face ventral, sua boca possui 8 barbilhões longos, as nadadeiras são escuras sendo que a dorsal, caudal e anal contornam a parte posterior do corpo.

Bagre africano (Clarias gariepinus)

Os clarídeos são peixes vigorosos, predadores agressivos que sobrevivem em cativeiro e podem sair do viveiro no período noturno em busca de alimentos, pois possuem habilidade de utilizar o oxigênio atmosférico respirando por adaptações na bexiga natatória. Mas são peixes que possuem brânquias e utilizam o oxigênio dissolvido na água. Machos e fêmeas atingem a maturação sexual com tamanhos similares ao redor de 33cm e o período reprodutivo está associado ao verão e períodos das chuvas. São animais de alta fecundidade e a reprodução induzida em cativeiro é obtida por indução hormonal. Os ovos são colocados em cochos durante a incubação e transferidos para viveiros escavados na larvicultura.

Nos viveiros de alevinagem são estocados numa densidade de 10.000 a 20.000 larvas/ha, com altas concentrações de oxigênio dissolvido, depois repartidos em viveiros para recria e engorda. Criado em monocultivo, em altas densidades 3 a 5 peixes/m² de viveiro. Comercializado a partir de 0,650kg mas o melhor rendimento de filé deve ser de peixes com 1,5 a 2,0kg com 12 meses de cultivo.

Bagre de canal (Ictalurus punctatus)

            O catfish americano ou bagre-de-canal pertence à família Ictaluridae, da ordem dos Siluriformes, nativa do Golfo do México e do Vale do Mississipi nos EUA. Ictalurus punctatus é uma espécie norte americana, cultivada nos Estados do Centro Sul daquele país com temperaturas amenas. Também conhecido como bagre americano, são cultivados em pisciculturas onde aplicam tecnologias apropriadas com reprodução específica para a espécie e incubação de ovos em bandejas.

            No Brasil é cultivado nos Estados do Sul, no Paraná e Santa Catarina devido ao clima temperado. As características condicionantes que fizeram estabelecer a criação foi a facilidade de desova, aceitação por rações comerciais e adaptação a temperaturas extremas. A reprodução ocorre na primavera, fazendo-se a sexagem visual dos animais onde os machos maiores pelo dimorfismo sexual permanente possuem a cabeça mais larga e o poro urogenital de menor tamanho e um pouco atrás do ânus.

            Peixe de corpo alongado com cabeça deprimida e coloração variada apresenta as nadadeiras com raios moles com exceção das peitorais e da dorsal que possuem espinhos duros. A nadadeira caudal é bifurcada e a anal é arredondada e apresenta a nadadeira adiposa. Apresenta barbilhões arranjados em um padrão definido ao longo da região subterminal da boca, típicos da espécie.

Bagre do canal (Ictalurus punctatus)

Os peixes atingem a maturidade sexual aos 2 anos de idade com peso médio de 0,350 kg mas o pico de reprodução é ao terceiro ano de vida com peso médio de 1,30kg. Os casais são acasalados em tanques de reprodução numa proporção de 2 machos para 3 fêmeas na densidade de 1kg/5m². As fêmeas depositam os ovos em manilhas de 6 a 8 polegadas, próximo à margem do tanque, com 40 a 50 cm de profundidade. A produção estimada nestas condições pode ser de 2,0 a 2,5 mil alevinos/kg da fêmea.

Adaptam-se a sistemas em gaiolas com densidade na engorda de 30kg/m³, em sistema de raceway numa densidade de 10kg/m³ iniciando com alevinos de 100g. No cultivo semi-intensivo estocados com 3.700 a 5.000 peixes/ha, os alevinos podem ser estocados com 5 peixes/m² em viveiros escavados com áreas de 2.000 a 5.000m², que disponham o sistema de escoamento de fundo e permita drenagem total do viveiro.

 Apesar de ser uma espécie que apresenta hábito alimentar carnívoro adapta-se bem a rações comerciais. As taxas de alimentação variam de acordo com o tamanho dos peixes e com a temperatura da água e sua dietas podem ser de 28% de proteína bruta.

4.CARPAS 

Carpa. Comum (Cyprinus carpio)

 A Carpa Comum Cyprinus carpio originária da China, espécie rústica possui alta resistência a variações de temperatura, tolera viver em ambientes de 15 até 35°C, cresce rapidamente e pode chegar de 0,8 a 2 kg em um ano em viveiros, com manejo e alimentação adequadas. No Brasil são cultivados, carpa comum, carpa espelho, carpa Húngara e a carpa colorida (Nishikigoi), cujo padrão foi desenvolvido no Japão, cultivada como peixe ornamental.

Segundo o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura (MAPA,2010) a produção de carpa no Brasil está em torno de 81 toneladas representando cerca de 25% da produção nacional de cultivo com maior presença na região Sul.

Carpa comum (Cyprinus carpio 

Sua comercialização é limitada devido ao sabor pouco apreciado, devendo passar por um período de depuração antes do abate. Podem ser criadas em sistemas de monocultivo ou policultivo visando obter uma quantidade ótima, com peso comercial, com o mínimo custo.  A primeira sugestão é o sistema de criação extensiva com estoque de animais de tamanhos variados, pós-larvas, alevinos e juvenis em um mesmo tanque procurando aproveitar os recursos mais eficientemente e a coleta é feita periodicamente quando atingem peso comercial.

A segunda sugestão é o estoque dos alevinos em viveiro com alta densidade transferindo continuamente para outros viveiros conforme desenvolvimento. As densidades de estocagem para essa tecnologia seria de 4.000 a 5.000 peixes/ha retirando alevinos de 2,5 cm de comprimento seletivamente com rede de arrasto e 2.000 a 3.000 peixes/ha com peixes de 5 a 10 cm de comprimento. 

Carpa Prateada (Hypophthalmichthys molitrix)

A Carpa Prateada, Hypophthalmichthys molitrix, uma das carpas nativas da Ásia, todas foram introduzidas na América do Norte. Os peixes foram trazidos pela primeira vez da Ásia e mantidos em lagos e plantas de esgoto para comer plâncton e vegetação indesejadas.

Na década de 1980, os peixes escaparam durante as inundações e seguiram para o norte até o rio Mississippi e seus afluentes, atualmente são encontrados em 18 estados americanos. A carpa prateada, Hypophthalmichthys molitrix, e a carpa cabeça grande, Aristichthys nobilis, compõem mais de 90% da biomassa em alguns riachos americanos. Alimentam-se de plâncton, material vegetal e animal, ingerem cerca de 5 a 20% do peso corporal por dia.

Alimenta-se principalmente de fitoplâncton filtrando-o da água através de estruturas especiais existentes nas brânquias. Um exemplar jovem pode ter no primeiro arco branquial ao redor de 1.700 espinhas branquiais (estruturas filtradoras).

 Carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix)

Assim um peixe de 250 gramas pode filtrar 32 litros de água por dia. o alimento chega à boca com a água, as algas passam pelas estruturas filtradoras e ficam retidas nas malhas da rede. É muito comum um exemplar de 500 gramas crescer 10 gramas por dia, ou mais.

Adulta chega a um metro e peso de dez quilos, possui uma característica de manejo interessante, que é de assustar-se facilmente saltando sobre redes de arrasto e muitas vezes atingindo os pescadores. Seus alevinos possuem um índice de mortalidade superior às demais carpas-chinesas.

O ciclo de vida das carpas asiáticas começa com a migração pré-desova de adultos na primavera ou no verão, geralmente provocada por um aumento na temperatura da água e um aumento no fluxo de água. Quando adultos os reprodutores após a desova não morrem, mas migram para jusante no final do verão. Os ovos eclodem no rio que flui e as larvas se movem para áreas de berçário, como lagos de várzea ou áreas remanso.

A idade de maturação sexual nas carpas asiáticas é dependente do clima, os machos geralmente se tornam sexualmente maduros antes das fêmeas. Elas tornam-se sexualmente maduras aos 4 a 6 anos, e as carpas capim aos 4 a 7 anos em regiões temperadas. 

Carpa Cabeça-grande (Aristichthys nobilis)

A carpa cabeça grande, Aristichthys nobilis é uma espécie de crescimento rápido. Mostra-se bastante relacionada com a carpa prateada em seus hábitos alimentares. Filtradora do alimento através das brânquias, sendo os organismos filtrados de maior tamanho principalmente zooplâncton e algas grandes. A temperatura ideal para o seu crescimento é de 24°C e o seu crescimento é superior à prateada atingindo na fase adulta em torno de 20kg.

Carpa cabeça grande Aristichthys nobilis

Carpa Capim (Ctenopharyngodon idella)

            A Carpa Capim, Ctenopharyngodon idella, animal herbívoro, na sua fase larval alimenta-se de fitoplâncton na razão de 40% de seu peso vivo por dia, muito usada em policultivo com outras carpas. Nos viveiros controla macrófitas e algas filamentosas, consome capins e vegetais verdes aceita rações comerciais, juntamente com alimento vegetal.

Carpa capim (Ctenopharyngodon idella)

 Adulta pode chegar a um metro de comprimento e 32 quilos seu conforto térmico ótimo para alimentação ao redor de 24ºC. O crescimento da carpa capim aumenta de 2 a 3kg /ano em regiões temperadas e  4 a 4,5kg /ano em regiões tropicais. Experiências demonstram que consome à razão de 25% de seu peso em pastagem diariamente.

 O tubo digestivo é curto com apenas duas a três vezes o comprimento do corpo ao redor de 65% do material verde ingerido é absorvido, o restante é excretado sob a forma de pelete densos, o que contribui sobremaneira na adubação da água. Uma vez adulta, sua dieta consiste de plantas superiores (azevém, milheto, sorgo, capim-elefante, alface) que mastiga facilmente com seus dentes faringianos.

 As rações fornecida na primeira fase são de 30% de Proteína Bruta e para terminação rações com 25% de Proteína Bruta. Oferecido 3% da biomassa, três vezes ao dia. Para mocultivo deve-se estocar 1 peixe/m² com boa renovação de água. Para policultivo depende do sistema de criação.

            Uma sugestão de povoamento para carpa capim:

Peso(g)                        Kg/ha                         n° indivíduos /ha

300                             200-300                                  500-800

200                             180-250                                  1000

100                             120-150                                  1500

010                             050-060                                  6000____ 

Policultivo de Carpas

O policultivo, criação de várias espécies no mesmo viveiro é uma alternativa viável para carpas. A característica da carpa prateada é ser fitoplanctófaga, a carpa comum de ser onívora e explora nicho do ambiente de fundo, a carpa-capim herbívora e a carpa cabeça-grande zooplanctófaga.  As proporções destas quatro espécies de peixes são variáveis de acordo com o tamanho do viveiro e características de manejo, sabendo que tem sido testado e aprovado em vários piscicultores profissionais.

  Os viveiros grandes, acima de um hectare, que favorecem o deslocamento dos peixes em grandes distâncias têm melhores resultados com as espécies filtradoras. Os viveiros pequenos, até um hectare, devido ao manejo mais intenso do proprietário e a maior facilidade do fornecimento de alimento suplementar (a ração e forragem) obtêm melhores resultados com a carpa-capim e a húngara.

Tabela 1. Espécies apropriadas ao policultivo e seus percentuais.

            Como exemplo o cálculo de um viveiro de meio hectare (5.000m²), temos:

                        Área do viveiro 5.000m²/ 4 espécies = 1.250 carpas

                        A divisão das espécies terão acréscimo de 50% para a mortalidade durante o cultivo.

  1. Cabeça Grande 187 + 93,5 = 280,5
  2. Prateada 187 + 93,5 = 280,5
  3. Capim 438 + 219 = 657
  4. Comum ou Húngara 438 + 219 = 657_____

                                    Total do povoamento             1.875 peixes

A retirada das carpas normalmente é feita com o esvaziamento total do viveiro baixando o nível e passando redes de arrasto. Este processo é o mais aconselhável pois evita o estresse excessivo dos animais, o aspecto final da carne fica melhor e o tempo de preservação após a despesca é ampliado.   Quando o viveiro estiver com pouca água, captura-se as carpas no porte de 1,5 a 5kg com um puçá de cabo, munido de uma rede de pesca, imobiliza o peixe sem a necessidade de agarrá-lo com a mão. Quando o piscicultor pressiona um peixe na despesca provoca manchas de sangue no corpo e arranca escamas depreciando o produto para o mercado.

O processamento do pescado deve ser imediato, pois a degradação da carne da carpa é muito rápida. Para o peixe despescado é recomendável eviscerar rapidamente e congelar com escamas pois aumenta a vida de prateleira do pescado.

5. PIAU, PIAUÇU, PIAPARA, PIAVA

Piau (Leporinus ssp)

Este gênero encontra-se distribuído amplamente na América do Sul e Central. Apresenta quatro espécies de grande valor econômico e cultural: o Piau Leporinus friderici, o Piauçu Leporinus macrocephalus, a Piapara Leporinus elongatus, e a Piava Leporinus obtusidens. São espécies que vêm sendo amplamente utilizadas para piscicultura. São muito conhecidas pelos pescadores comerciais, esportivos e colecionadores de peixes ornamentais (fases juvenis). Possuem os lábios finos, corpo escuro no dorso meio acinzentado e ventre claro.

Piau três pintas (Leporinus friderici , Piauçu (Leporinus macrocephalus), Piapara (Leporinus elongatus), Piava (Leporinus obtusidens)

 A piapara e o piauçu são espécies que vêm sendo amplamente utilizadas para piscicultura comercial principalmente nos Estados de São Paulo e Paraná. Estas espécies em cativeiro apresentam boa conversão alimentar, e são muito valorizadas para pesque-pague.

São espécies ovulíparas quando a fecundação ocorre em meio externo, são peixes de piracema, em cativeiro a reprodução é induzida. Possuem hábitos alimentares onívoros e aceitam bem rações comerciais O sistema de criação em viveiros escavados pode ser de 1peixe/m², as rações comerciais de 22 a 28% na fase final e 32 a 40% de proteína bruta na fase inicial da criação. Os peixes atingem 1kg/ano. É muito procurado para pesca esportiva, o Estado do Mato Grosso é o principal produtor

6.LAMBARI 

Lambari do rabo amarelo (Astyanax sp)        

Entre as espécies nativas, o lambari do rabo amarelo (Astyanax sp) é uma espécie com bom potencial para a piscicultura. Possui um mercado específico no uso para isca de pesca esportiva e com boas possibilidades de expansão de mercado pois é bem aceito como petisco. Existem diversas espécies de lambaris, lambari do rabo amarelo, do rabo vermelho, lambarizinho, lambari prata entre outros, esta nomenclatura podendo ser alterada entre as diferentes regiões. Comercializada atualmente nas proximidades dos grandes rios do estado de São Paulo, rios Tietê, Paraná, Paranapanema e Rio Grande.

Para se estabelecer um sistema de produção é necessário saber qual a espécie mais adaptada ao ambiente de cultivo sabendo que muda entre as diferentes regiões do Brasil. O lambari é uma espécie rústica, de pequeno porte, com ciclo de vida rápido e que apresenta elevada produtividade em cultivo intensivo. Podemos produzir 100 t/ha por ano e o início de cultivo pode ser em qualquer época.

Em cultivo comercial aceita bem rações artificiais e o sistema preconizado deve ser em que o manejo alimentar tenha êxito, independentemente da fase de crescimento, uma vez que está diretamente relacionada ao fornecimento da ração e a utilização de tecnologia para os peixes.   O mercado do lambari é estimado hoje em aproximadamente 30 milhões de unidades/ano, e se mostra ainda mais promissor, pois o produto já é bem aceito como petisco e pode ser industrializado na forma de conservas e ser opção as sardinhas enlatadas. Porém é como isca viva para a pesca esportiva que se destaca e impulsiona sua produção.

O conhecimento das técnicas de manejo adotadas pelos produtores repassadas pelos órgãos de fomento aliada aos fluxos de informações produzidas pelos agentes econômicos pertencentes a esta cadeia produtiva tem-se viabilizado e ajustado a lambaricultura nestes últimos anos.

Lambari (Astyanax sp)

Sistema de criação do Lambari

O lambari do rabo amarelo (Astyanax fasciatus) e do rabo vermelho (A. altiparanae) são espécies usadas para criação de lambaris. Elas possuem algumas características que as tornam interessantes, pois apresentam alta fecundidade, facilidade para obtenção de alevinos, adaptação a variações de temperatura da água e crescimento precoce, atingindo peso comercial de 10-15g em aproximadamente três meses.

Os índices de produção variam de uma densidade de estocagem de 40 indivíduos por m² em tanques escavados a 600 indivíduos por m³ em tanques redes, com tempo de cultivo de 90 dias e com uma conversão alimentar de 1,4 ou 9 kg de ração por milheiro.   A criação geralmente usa viveiros escavados como principal sistema de produção com cerca de 1.000 m² /viveiro. A criação pode ser viabilizada em tanques redes com densidade de 600 peixes/m³ em grandes reservatórios, em hapas (pequenas gaiolas feitas com telas de mosquiteiro) em viveiros escavados, em caixas de fibra e em sistema de recirculação fechado.

 A qualidade da água durante a alevinagem nos tanques de berçários ou hapas requer manter a proteção solar, com um mínimo de 10% de sombreamento.  A transparência da água de 30 a 50 cm, manter pouca renovação da água para produção de plâncton e fazer o treinamento com ração farelada de 45% proteína bruta nas primeiras semanas.  Uma densidade de estocagem de 200-300 alevinos /m².   Para engorda 50 a 80 peixes/m² em viveiros escavados com boa renovação de água (10% ao dia), ração comercial extrusada 32% de proteína bruta, calagem e adubação periódica. Para cultivos em tanques de recirculação, densidade de 2kg/m³ na fase de alevinagem e 12kg/m³ na fase de engorda.

7.TRAIRA E TRAIRÃO

Traira (Hoplias malabaricus) e Trairão (Hoplias lacerdae)

Estes peixes pertencem a família Erythrinidae e são encontrados nos mananciais de águas lênticas. A traíra, Hoplias malabaricus é também disseminado através das estações de pisciculturas e por piscicultores particulares e o trairão Hoplias lacerdae, que originalmente ocupava a região do rio Ribeira e Iguape no Estado de São Paulo.

A principal característica para identificação das duas espécies está na região gular (quando de cabeça para baixo, parte inferior da cabeça): no trairão as bordas dos dentários são paralelas e na traíra estas se unem próximo a região da boca em um ¨V¨ 

Vista ventral mostrando a diferenciação das duas espécies. Lado esquerdo vista ventral do trairão e no lado direito vista ventral da traíra.  São peixes carnívoros vorazes, apesar de movimentos lentos, ressalvando-se que o trairão possui porte bastante avantajado chegando até 20kg. A traíra vive em grandes rios enquanto o trairão vive em lagos e pequenos mananciais. Sua pesca é realizada principalmente com iscas vivas no período noturno.

Traíra (Hoplias malabaricus) (a), Trairão (Hoplias lacerdae) (b)

Estes peixe reproduzem em águas paradas em tocas de pedras, em aguapés, com profundidade do viveiro de 30cm, produzindo na desova cerca de 15.000 a 20.000 peixes. Para reprodução são utilizados pequenos viveiros de até 400m² com densidade de 1 peixe /5 m² pois são bastante agressivos, o acasalamento ocorre nos meses quentes do ano, e as desovas são parceladas com três a quatro desova no período reprodutivo.  O sistema de cultivo pode ser criado em consórcio com peixes forrageiros para controle das desovas. Um peixe/10 a 15m²na proporção de 1 peixe carnívoro: 5 peixes forrageiros. Alimentação suplementar com ração

8.TRUTA

Truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss)

No Brasil a primeira introdução dos salmonídeos foi em 1949, quando foram trazidas algumas trutas da Dinamarca, da Argentina e dos Estados Unidos para povoamento de áreas frias do Rio de Janeiro em Friburgo e Teresópolis e no Estado de São Paulo em Campos do Jordão e no Estado de Santa Catarina nas regiões serranas. Em 1967 foi implantada a primeira truticultura no Brasil, em Campos do Jordão e posteriormente em 1974 tivemos iniciativas de truticultura comercial.

Uma segunda fase teve início em 1987 com a criação da Associação Brasileira de Truticultura (ABRAT) com objetivo de aprimorar o cultivo, reunir os produtores e melhorar as tecnologias aplicadas. As tecnologias atuais de criação estão defasadas com os outros países e a produção brasileira está em torno de 2.000 toneladas/ano deste pescado, no ano de 1998.  Segundo o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura (MAPA, 2010) a produção de truta está em torno de 4 mil toneladas no Brasil.  A Truta Arco-íris os adultos apresentam coloração escura que refletem a coloração de um arco-íris quando incide a luz solar e uma menor parte de exemplares têm a coloração amarela (albina).

Truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss)

            A truta apresenta o corpo fusiforme que facilita a sua locomoção, uma vez que diminui a resistência da água, possui simetria bilateral e se movimenta por movimentos longitudinais. A pele, tem a função de proteção contra doenças e lesões causadas por microrganismos e é o coberta por pequenas escamas circulares que crescem a medida que o peixe aumenta de tamanho.

            A reprodução da truta arco-íris concentra-se no inverno, nos meses de maio a agosto, quando os dias são mais curtos e a temperatura da água em média de 10°C. Na natureza, as trutas sobem os rios em direção as nascentes para o acasalamento. Em cativeiro chegam a maturidade sexual no segundo ano. Sem os estímulos que teriam na natureza de subir as correntezas, construir ninhos entre as pedras, presença do parceiro elas não conseguem expelir seus produtos sexuais, necessitando intervir no processo da reprodução extrusando artificialmente.

Reprodução artificial em trutas arco-íris

            A obtenção de um bom plantel de reprodutores, recomenda-se iniciar a seleção por volta do primeiro ano de vida, considerando-se principalmente o ganho de peso. São descartados os animais fracos, mal desenvolvidos, doentes e que apresentam mal formações. Alguns machos podem estar maduros no primeiro ano de vida, mas não é favorável. O aconselhável são machos de 2 anos de vida pesando uma média de 800g, apresentam melhores características para serem selecionados.

Aproximando-se o período da reprodução próximo de abril, as características sexuais secundárias são notadas tais como, no macho as laterais são mais brilhantes e a mandíbula é pronunciada, nas fêmeas o corpo fica arredondado, com a cabeça mais delicada. Uma nova triagem deve ser feita para facilitar o manejo e evitar brigas entre os reprodutores. Os machos devem ser separados das fêmeas e a densidade de estocagem dos reprodutores deve ser de 10kg/m³. O arraçoamento é fixado em 1% do peso vivo/dia, a alimentação deve ser suspensa 24 horas antes da manipulação dos reprodutores. A extrusão dos óvulos das fêmeas maduras se inicia com as triagens em intervalos regulares através de leve compressão abdominal quando maduras elas liberam os óvulos na cavidade abdominal, apresentam o ventre abaulado e o orifício genital entumecido e avermelhado.

 Os óvulos apresentam um tempo de vida útil na cavidade abdominal; quanto mais alta a temperatura, menor seu tempo de vida útil, para isso usa-se intervalos regulares entre as triagens. Com a temperatura ao redor de 10°C a triagem deve ser feita a cada 7 dias. Quanto mais alta a temperatura, menor deve ser o intervalo entre as triagens. No processo de fecundação os óvulos viáveis devem apresentar aspecto homogêneo e coloração amarela.

A extrusão deve ser feita em bacia de plástico limpa e seca. Coloca-se os óvulos e sobre eles o líquido seminal. Mexer com muito cuidado sem movimentos bruscos com uma pena ou colher de plástico, homogeneizando todo produto. Adicionar água de forma a cobrir todos óvulos, para ativar a movimentação espermática e imediatamente inicia-se a fertilização e hidratação dos ovos, processo que dura cerca de 20 minutos.

O processo de incubação leva em torno de 300 UTA (Unidade Térmica Acumulada), valor obtido pela somatória das temperaturas médias diárias e a incubação divide-se em duas fases desde a fecundação até a aparição dos ovos do embrião (ovo embrionado), cerca de 180°graus dia (durante a incubação) e pode ser comercializado desta etapa até a eclosão.  Os tipos de Incubadoras podem ser as verticais e horizontais, onde o fluxo de água incide de baixo para cima, e a vazão é calculada em função da disponibilidade de oxigênio dissolvido na água. Aproximadamente 0,5 a 1,0 litro/min/1.000 ovos. Deve ser a máxima desde que não provoque o revolvimento dos ovos.

A incubadora horizontal, pode ser de madeira, calha de cimento amianto ou concreto e todas possuem bandejas para deposição dos ovos. Essas incubadoras podem ter (50×50 e 20×50) as bandejas dispostas nas calhas cobertas 5 cm de água. Para determinar as dimensões das bandejas são recomendadas cerca de 10.000 ovos/1.500 cm², ou no máximo duas camadas de ovos/bandeja para incubação e uma camada de ovos para eclosão.

 A incubadora horizontal pode ser usada também para 1° alevinagem, desde que se faça desinfecção das mesmas antes da utilização. A incubadora vertical de bandejas sobreposta é utilizada exclusivamente para tal fim. O fluxo deve ser de baixo para cima a uma temperatura constante de 10°C . O período larvário compreende entre o nascimento até a primeira alimentação externa. As larvas nascem com comprimento médio de 15mm e a absorção do vitelo (saco vitelínico) dura em torno de 180 UTA, quando a larva atinge 20mm. Com este comprimento as larvas possuem 100 mg de peso e podem ser transferidas para os tanques de alevinagem de 0,40 a 0,60 m de profundidade.

A primeira alimentação deve ser oferecida quando os alevinos estiverem nadando após terem absorvido o saco vitelínico, com ração de alto teor proteico 46%PB, farelada (bem fina), várias vezes ao dia. A alimentação deve ser 10% ao dia e o manejo sanitário é importante nas calhas ou caixas de alevinagem. As caixas devem estar em locais isento de luz direta. Fazer limpeza diária dos restos de ração e larvas mortas,

Após 180 UTA os alevinos começam adquirir pigmentação e podem ser transferidos para tanques de alevinagem externos. Com 200 mg e a temperatura abaixo de 14°C, podem ser estocados 10.000 alevinos/m³, durante os primeiros 15 dias de cultivo. Os alevinos devem ser remanejados a cada 15 dias para menores densidades, e os tanques cobertos com telas plásticas para diminuir a incidência de luz solar direta.

 O ajuste da ração deve ser a cada 15 dias e à partir do quarto mês de cultivo, o ajuste da ração decresce gradativamente a quantidade diária é calculada em função da temperatura da água e do tamanho dos peixes. Perdas de 0,8% são estimadas durante o cultivo, supondo-se que as variáveis envolvidas (temperatura, oxigênio, pH, vazão) estejam dentro dos valores normais para o cultivo da truta arco-íris.

O número de reprodutores é definido em função da produção que se deseja obter: 1 tonelada/trutas/mês, ou 1 tonelada truta /ano. Para exemplo usaremos 12 toneladas/trutas/ano cerca de 40.000 peixes (300g). Considerando perda de 50% do ovo até o abate, seriam necessários cerca de 80.000 ovos. E 1 fêmea produz 2.000 óvulos portanto para 80.000 ovos teremos que ter 40kg de fêmeas (40 fêmeas com peso médio de 1kg). Para repor as mortes acrescer 20% do plantel.

Alimentação e arraçoamento

A truta arco- íris em estado selvagem alimenta-se predominantemente de larvas e formas adultas de insetos, moluscos e pequenos peixes e eventualmente pequenos animais aquáticos. A alimentação baseiada em ração e o oferecimento duas vezes ao dia proporciona bons resultados. O tamanho da partícula de alimento também varia em função do tamanho do peixe, através do uso de rações comerciais, a conversão alimentar fica em torno de 1,5:1 a 1,8:1 dependendo da qualidade da dieta.

Sistema de criação da Truta arco-íris

O conjunto de obras deve ser dimensionado afim de configurar o mais econômico e definitivo possível uma vez que obras de ampliação ou reformas tornam-se muito difíceis e onerosas. Os componentes iniciais da criação são a barragem que consiste no barramento para desvio de parte da vazão do curso d’água para o canal aberto ou tubulação fechada de adução (condução da entrada de água), através do qual será conduzida aos tanques.

 Deve ser dimensionada de forma a resistir a enchentes comuns no período chuvoso, as comportas devem ser dimensionadas afim de evitar assoreamento na piscicultura e permitir a remoção de sedimentos como argila e areia que causam danos aos peixes. Os canais de adução devem ser abertos para melhor inspeção e facilidade de limpeza. A declividade deve propiciar um regime de escoamento da água uniforme e livre de turbulência para evitar erosão e facilitar a distribuição da água para os tanques. O sistema de entrada de água deve ter grades de proteção, comportas ou válvulas de regulagem da condução da água.

O formato deve ser de preferência circulares que possuem várias vantagens a facilidade de limpeza e manejo esvaziamento central, controle de vazão e controle do nível d’água. Os tanques circulares devem ser de 5 a 12 m de diâmetro e 1 m de profundidade, ter circulação de 80 a 100% do volume /hora. O material para construção pode ser de alvenaria como tijolos, concreto, blocos, pedras de fibra de vidro, Polietileno de Alta Densidade (PAD) e filme plástico, fibrocimento, chapas metálicas e tanque rede.

E ao final lagoas de estabilização que são estruturas com a função de evitar a poluição do curso d’água. Elas recebem a descarga dos tanques, os sedimentos de ração, fezes e outras partículas para serem depositadas no fundo da lagoa. Para o uso de tanques de concreto ou lona de polietileno de alta densidade (PAD), com uma boa circulação de água uma renovação de 100%/hora suportam 25 a 45 kg de peixe/m³. Tanques de reprodutores, alevinos e peixes na fase de crescimento e terminação, devem ser abastecidos por uma vazão coerente com a demanda de oxigênio da população ali mantida.

 Fonte: Apostila curso Antherotec/ Anthero2022

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